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Acidente com ônibus que perdeu eixo alerta para problemas de manutenção da frota de BH
Por: 23 de Agosto de 2013 em: Notícias

 

Irregularidades fizeram aumentar em 82% o número de autuações a empresas

 

Eixo

Veículo, que estava com o prazo de vistoria vencido, havia passado por recall para evitar problemas com peça que se quebrou. Especialista questiona forma de inspeção da BHtrans

 

 

     O acidente com um ônibus da linha 4031 (Santa Maria/hospitais), que bateu em uma árvore depois de perder o eixo traseiro, na tarde de quarta-feira, ferindo sete pessoas, acende o alerta sobre os perigos da falta de manutenção dos coletivos que trafegam em Belo Horizonte. De acordo com a BHTrans, o número de autuações a empresas de transporte que não cumpriram normas de conservação dos seus veículos chega a ser 82% maior neste ano do que em 2012. Foram 822 multas e notificações no ano passado, média de 2,2 por dia, contra 722 nos sete primeiros meses de 2013, frequência que chega a 4 punições diárias. Somando as reclamações de usuários sobre a conservação nas linhas do BHBus e do serviço metropolitano, chega-se, neste ano, a 862 queixas, média de 5,7 a cada dia.

     Para o mestre em engenharia de transportes Márcio Aguiar, professor de Transporte e Trânsito da Universidade Fumec, o estado de conservação precário agrava uma situação que já é crítica. “Os veículos que operam em BH são muito ruins e ultrapassados. Têm motor dianteiro, a embreagem não é automática – ou seja, dão arrancos nas trocas de marcha–, não têm climatização, rastreamento por GPS ou um mínimo de conforto. Tudo isso piora com o tempo de uso e a falta de manutenção ideal”, afirma o especialista.

 

    O trabalho de vistorias da BHTrans tem sido proporcionalmente maior neste ano, já que a média diária de inspeções a ônibus aumentou 26%. Em 2012, foram 3.912. Neste ano, de janeiro a junho, já são 2.034, o que fez a média diária subir de 10,7 para 13,5. A frota atual do sistema BHBus é de 3.054 veículos, com média de quatro anos de idade. De acordo com a BHTrans, pelo contrato celebrado em 2009 com os consórcios que operam o sistema BHBus, a periodicidade das vistorias varia segundo a idade do veículo. Ônibus de 3 a 6 anos de fabricação fazem uma checagem por ano. Os que têm entre 6 e 10 anos (idade máxima admitida) se submetem a inspeção semestral.

     Porém, para o professor Márcio Aguiar, o sistema de avaliação da BHTrans é falho. “A vistoria é programada. Não dá para saber se o veículo que chega ao pátio é o mesmo, com os mesmos equipamentos, que vai rodar nas ruas. O correto seria uma checagem surpresa, nas garagens dos ônibus e por amostragem”, afirma.

     O ônibus acidentado na quarta-feira, por exemplo, é um veículo relativamente novo: tem três anos de fabricação, de acordo com o Detran-MG. Faz parte de um lote de veículos Mercedes-Benz que têm apresentado defeitos nos grampos que sustentam o eixo traseiro, mas chegou a ser levado a uma concessionária, em que foi feito o recall. Não se sabe ainda quem falhou – se a concessionária da marca ou a empresa dona do coletivo –  ao não detectar o defeito.

Irregular

      Neste ano, porém, o ônibus não foi submetido à vistoria programada para o mês passado. Quando constatou a irregularidade, após o acidente, a BHTrans aplicou multa de R$ 367,77 e recolheu a autorização de tráfego do veículo. O Estado de Minas levantou junto ao Detran que o coletivo em questão também apresenta multa pendente por circular acima da velocidade permitida, justamente na Avenida Amazonas, onde ocorreu o acidente.

     A BHTrans informou, por meio de nota, que em 2014 entrarão em circulação 400 coletivos novos, com o início da operação do sistema de transporte rápido por ônibus, chamado Move. Serão 190 veículos articulados (com 18,6 metros de comprimento) e 210 do tipo padron (13,2 metros, sem articulação), que precisarão atender exigências de altura, desempenho e ter portas com abertura do lado esquerdo, tornando-se assim acessíveis às plataformas especiais dos corredores. Os demais veículos da cidade, que não itegrarem o Move, seguirão “o mesmo padrão de exigência e qualidade dos coletivos atuais”, informou a empresa municipal, em nota.

     Pelo segundo dia seguido a equipe do Estado de Minas tentou entrar em contato com os responsáveis pela Salvadora Transportes, proprietária do ônibus da linha 4031 que se acidentou na Avenida Amazonas, mas ninguém retornou as ligações ou se dispôs a responder aos questionamentos sobre o incidente de quarta-feira.

Defeito no eixo não é novidade

     O acidente envolvendo o coletivo da linha 4031 (Santa Maria/hospitais) na Avenida Amazonas não é o primeiro e pode não ser o último causado pelo desprendimento do eixo traseiro em um ônibus do transporte coletivo de Belo Horizonte. Pelo menos outros dois casos semelhantes já haviam sido confirmados pela própria fabricante do ônibus – a Mercedes-Benz – em reportagem publicada pelo caderno “Vrum”, do Estado de Minas, em fevereiro de 2011. Na época, 13.400 unidades do chassi OF-1722, fabricadas entre julho de 2008 e setembro de 2010 – exatamente o modelo do veículo acidentado anteontem –, haviam sido alvo de recall do fabricante. Motivo: risco da quebra dos grampos das molas do eixo traseiro, levando à perda da dirigibilidade do veículo.

     O reparo do problema consistia na verificação, aperto ou substituição dos parafusos que sustentam o conjunto mecânico das duas rodas traseiras. Manutenção que pode não ter sido feita corretamente no ônibus da linha 4031, embora o coletivo em questão, produzido em 2010, tenha passado pelo recall da marca, segundo o site da Mercedes-Benz. “Aquilo (o acidente) foi uma tendência natural de quebra de grampo do chassi. Só que todos os quatro grampos não se quebram de uma só vez”, alertou uma fonte ligada à marca, que preferiu não se identificar.

     Segundo o especialista, para o eixo traseiro se soltar da carroceria de um ônibus é necessário que pelo menos os dois grampos presentes acima de cada roda se soltem. A mania dos motoristas de ônibus de BH de puxar a alavanca do freio de mão nas reduções de velocidade, em vez de frear normalmente – uma espécie de código de comunicação da categoria – também pode ter colaborado com o fato. “As peças não se quebraram no momento da batida. É bom notar também que o piso em Belo Horizonte está muito ruim, com muitos buracos. Os consórcios estão adquirindo ônibus maiores e mais longos, o que aumenta a fadiga da estrutura dos veículos na parte traseira. Isso exige um intervalo de manutenção menor. Talvez nem todas as empresas estejam cientes”, alerta. Procurada, a Mercedes-Benz não se pronunciou sobre o assunto. (BF)

ENQUANTO ISSO... ...BRTs já estão em produção

     Depois de sucessivos adiamentos nas encomendas dos consórcios, já estão em produção os primeiros ônibus do Move, marca escolhida pela BHTrans para batizar o transporte rápido por ônibus (BRT) de Belo Horizonte. A maior parte dos 690 coletivos do futuro sistema da capital e região metropolitana será fornecida pela Mercedes-Benz. Desse total, 350 serão ônibus padrons – com motor dianteiro e suspensão a ar – para uso dentro e fora dos corredores exclusivos. Os demais 340 serão articulados, com peso bruto total maior ou igual a 26 toneladas e comprimento máximo de 19 metros. O faturamento dos veículos será iniciado na semana que vem.

 

Fonte: Site Uai

Mateus Parreiras

Bruno Freitas -

Publicação: 23/08/2013 06:00 Atualização: 23/08/2013 07:12

 

http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/08/23/interna_gerais,438485/acidente-com-onibus-que-perdeu-eixo-alerta-para-problemas-de-manutencao-da-frota-de-bh.shtml