Eventos

Motoristas de ônibus de BH relatam exaustão e piora nas condições de trabalho
Por: 12 de Julho de 2022 em: Eventos

O transporte coletivo de ônibus de Belo Horizonte terá mais viagens a partir desta terça-feira (12). Na contramão de tudo isso, os motoristas pedem por mais atenção diante da situação enfrentada no cotidiano do trabalho. A saúde mental dos mais de 6,5 mil condutores está colocada em xeque diante das condições precárias, além da pressão por pontualidade vinda dos usuários, conforme relatam.

Em entrevista à reportagem de O TEMPO, Paulo César da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviário de Belo Horizonte (STTR BH), conta que a situação se agravou com a pandemia de Covid-19. “Nos últimos anos, além de dirigir, o motorista teve que cobrar o uso da máscara e, em alguns casos, usuários agrediram os trabalhadores. As ameaças e agressões acabam acarretando no adoecimento”.

Ansiedade, perda de sono são algumas das reclamações recorrentes dos motoristas que acabam gerando no afastamento dos profissionais das atividades.

“É uma série de fatores que contribuem para isso. A frota do transporte coletivo está sucateada há anos e agora muito mais com as alegações econômicas das empresas. Muitas vezes, o veículo não está com manutenção em dia. Dá problema na coluna, pois bancos ou estão mal colocados ou em mau estado de conservação”, pontua.

Falar da ausência do cobrador pode parecer repetição, mas quem está na condução do ônibus reclama da falta do profissional. Silva destaca que entende o avanço tecnológico - com o pagamento no bilhete eletrônico -, no entanto ressalta o acúmulo de função repassado ao motorista.

“Tinham que implementar um sistema eficiente. A dupla função é uma mazela que assola a saúde do trabalhador. O motorista tem que receber, se não tiver troco, o passageiro reclama da demora. Falta organização no sistema de transporte coletivo de ônibus para dar mais conforto para a peça principal no veículo: o condutor”, afirma lembrando, por exemplo, das vezes que é preciso operar o elevador para deficientes. 

A pressão vinda do usuário que cobra mais ônibus acaba recaindo nos motoristas que não têm autonomia para resolver a demanda. “O passageiro que está do lado de fora quer entrar, mesmo com o ônibus lotado. O que está dentro não quer deixar. Se o motorista para o veículo, ele tem que ouvir muita reclamação, se ele deixa o passageiro é multado”.

O presidente do sindicato cobra os órgãos competentes a atenderem as demandas da categoria. “O poder concedente, Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e BHTrans precisam olhar para nós. Se fala muito das condições das empresas, de fazer mais viagens, mas esquecem de quem precisa estar em melhores condições. Se o motorista estiver em condições físicas e psíquicas, ele fará o transporte com rapidez”.

O STTR BH oferece atendimento psicológico aos profissionais. A relação de motoristas que precisaram se afastar por condições médicas não chega ao sindicato da categoria, pois, segundo Silva, as empresas não repassam os dados.

'Piorou demais'

"As condições de trabalho nunca foram das mais agradáveis, só que piorou demais". O desabafo é de um motorista que está na profissão há 28 anos. À reportagem de O TEMPO, ele conta, em anonimato, que todos os colegas da profissão têm reclamado.

"A população reclama muito com a gente, mas não temos o que fazer. Só na minha empresa, desde que a pandemia começou, teve uma redução de dez veículos. Não dá para fazer as mesmas viagens que antes", comenta.

Dirigir e cobrar passagem é uma das funções que ele desempenha. "É difícil demais, além das funções básicas temos que orientar os passageiros, pois nem todos conhecem os pontos e os locais que o ônibus passa. Chego rouco no final do dia. Sem falar que nossa profissão trabalha todos os dias: sábado, domingo, feriado, Natal, Ano Novo e todas as demais datas comemorativas".

‘Não dão importância’

Na última rodada de negociação salarial, o tema da saúde, mais uma vez, foi levado para discussão. O resultado, por sua vez, não foi o esperado. “BHTrans e prefeitura não quiseram participar dos debates. Apenas no último encontro que o então prefeito Alexandre Kalil. Mesmo assim, ele ouviu todas as demandas e nada disse. Entrou mudo e saiu calado”, relembra Silva.

Diante disso, o líder sindical reforça que este tipo de atitude mostra que o transporte público não tem “importância” para as autoridades. “A prefeitura não dá importância para o que acontece. Ela se isenta de toda culpa e não dá atenção”.

Procurada por O TEMPO, a PBH informou que a “questão dos funcionários do transporte coletivo é uma relação trabalhista entre o SetraBH e o Sindicato dos Rodoviários”. “Não compete à Prefeitura interferir nas situações entre os empregados e as empresas que operam o serviço em Belo Horizonte”, disse em nota.

O Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) foi questionado sobre as ações realizadas, mas ainda não respondeu a demanda. O texto será atualizado assim que o posicionamento for recebido.

 

Por: Vitor Fórneas

Jornal o Tempo